8 de março de 2011

A DAMA DAS AMÊNDOAS - O MISTÉRIO DE SELVAGGIO

Gosto de escrever sobre um livro logo depois de Lê-lo. Pra mim é como sentir por mais um instante, o doce sabor de um suco recém tomado. É degustar o finalzinho da fruta, como se por um momento pudéssemos sentir de novo toda a maciez e opulência de sua essência. É isto que tento guardar quando escrevo, porque sei que não conseguirei guardá-lo apenas na memória. Daí escrever aqui é uma forma de uma vez ou outra relembrar belos textos lidos.

Mas, vamos ao livro... A dama das amêndoas é uma historia envolvente que traz a seus leitores um pouco do mundo medieval, não pelo ponto de vista “comum” cheio de cavaleiros heróis e reis obstinados. Ele traz um ângulo inovador. O olhar feminino em um mundo marcado por guerras, suas decepções, seus aprendizados e a forma realista de encarar a vida em seu tempo.

O texto de Marina Fiorato começa de forma enfadonha e vai ganhando emoção a medida que o livro vai mostrando seus personagens, ou a evolução deles. Praticamente todos sofrem metamorfoses no decorrer da historia que mistura a fé no cristianismo e no judaísmo, a intolerância do poder dominante e a resistência do vencidos.

Se você tiver oportunidade de ler será uma ótima companhia para seu tempo vago, será um momento de reflexão sobre a capacidade humana de viver com suas convicções, respeitar as convicções alheias e ser feliz em um mundo que sempre foi multiétnico, multicultural e poder entender que toda essa aparente diferença é na realidade uma ilusão. O que todos querem é apenas a felicidade.

É um livro forte. Mostra em tons vivos (de Bernardino?) uma caricatura dos cardeais católicos e sua desenfreada necessidade de acabar com seus opositores. Exibe um Don divino: A amizade de forma desinteressada, alem de estar repleto de momentos de auto conhecimento e não julgamento do outro.

Escolhi o trechinho abaixo da pagina 100. Que mostra um pouco do enigma do personagem Selvaggio. Leia e tente entender.

__ Um pedaço de madeira sabe que foi antes uma árvore?
__ele perguntou, escolhendo uma lenha de corte tosco da pilha de madeira e girando-a na mão. __ Não; não se lembra de onde ficava, na planície ou na floresta, nem dos ventos que a balançavam, as chuvas que a ensopavam; e tampouco do sol que a aquecia. Não se lembra que derramava folhas no inverno e brotava-as mais uma vez com a primavera, durante o ciclo de muitas e muitas estações, a medida que lhe nasciam os anéis na barriga. E ,no entanto, sabemos que ela viveu, sim, essa vida, e agora estou aqui, e outrora estive em outro lugar, mas que lugar era esse não sei. Não sei nem quantos verões vi, nem onde no mundo morava quando eu era vivo.

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