11 de maio de 2013

A COSTUREIRA E O CANGACEIRO. de Frances Peebles




Nossas origens sempre nos atraem, queira ou não estamos ligados a ela como se o “cordão umbilical” nunca tivesse sido cortado, esta é a sensação ao se ler  A COSTUREIRA E O CANGACEIRO de Frances Peebles. Brasileira, filha de pai norte americano, esta escritora encanta pela maneira detalhada de mostrar uma caatinga, onde ela nasceu e viveu alguns anos.

Falei de origem, porque também me sinto filho da caatinga e a leitura do livro me fez, mais uma vez entender como os nordestinos são fortes e como foram heróis pelo simples fato de se manterem vivos e com isso conseguirem trazer seus “genes” até nós. Somos herdeiros de toda essa força composta de angustia, sofrimento, uma certa dose de maldade, mas acima de tudo de coragem de lutar pela vida.

O livro é uma ficção, porem baseada em um momento histórico real, o trabalho de pesquisa foi maravilhoso e com ele “quase” é possível ver a caatinga de 1920 a 1935. A escolha das duas personagens, duas meninas, irmãs e com sonhos e personalidades diferentes foi o ponto marcante para desenvolver um olhar de amor e ódio, de esperança e desespero entre os diversos momentos da historia.

A luta pela vida em um ambiente hostil, criou seus principais personagens, alguns aproveitaram o momento histórico para se estabelecer e de certa forma conseguir “povoar” o interior do país, este é o caso dos coronéis, em um tempo em que o estado se concentrava no litoral, a opção para manter o poder no interior era “passar” o poder das terras para os coronéis, que tinham total autonomia sobre seu território, era algo bem feudal, porem era o mesmo que Portugal havia feito com o Brasil todo, quando mandou pra cá seus Governadores Gerais, no fundo eram uns Coronéis de Portugal no Brasil.

O Governo brasileiro independente, fez o mesmo, deu terras e poderes aos coronéis para manter o território sem a “invasão” de opositores. Os coronéis foram humanos, e logicamente, alguns foram “desumanos” fazendo todo tipo de crueldade com o povo sob seu domínio, é neste contexto que surgem os primeiros cangaceiros, que nada mais são do que pessoas simples que foram humilhados/torturados/traumatizados pelos mesmos coronéis. A “reação” é ser tão ou mais cruel que o seu malfeitor, então um Cangaceiro “cria” sua própria lei, e dentro dela não cabe nenhuma piedade.

No momento histórico do livro,  o estado brasileiro já esta mais “completo”, já dominou praticamente o litoral e volta seu olhar também para o interior, então os Coronéis começam a se sentirem ameaçados, afinal o “verdadeiro” dono terras vai impor sua lei sobre elas, além disso é o momento em que os injustiçados de antes, conhecidos como cangaceiros já tem uma certa fama e um certo respeito, e a seca, outro inimigo dos Coronéis também se mostra presente.

É neste cenário que Frances mostra suas duas “meninas” inocentes, sonhadoras, irrequietas,   tão sapecas que toda a historia toma seu rumo quando uma delas caí de cima de um pé de Manga.  Leia  e se emocione, a historia de Emília e Luzia, duas adolescentes que “tecem” suas vidas com suas escolhas, assim como se costura um vestido.