21 de julho de 2010

O LIVRO DA SABEDORIA - A FÁBULA DOS CEGOS COM O ELEFANTE



Terminei de ler o “Livro da sabedoria”, uma coletânea de pequenos textos, poucas parábolas e alguns provérbios, organizados pela professora Yveline Brière que também é uma estudiosa do comportamento do ser humano.
É um livro com textos curtos e bastantes interessante que deve ser lido sem pressa, e se possível parar para pensar em cada pagina, vale muito a leitura.

A sabedoria que atrai o leitor na capa do livro é insinuada nos pensamentos de grandes filósofos e de outras personalidades cativantes da historia, tem até pequenos textos bíblicos, em termos de sabedoria a autora (organizadora) prova que bebeu na fonte e obteve conhecimentos necessários para colocar em um mesmo livro pensamentos bem divergentes e pensadores do varias crenças e de todos os continentes.

Eu, que também sou aberto a todas as maneiras de reflexões gostei de ler no livro citações como: “o filósofo fará bem seu trabalho se conseguir criar verdadeiras dúvidas” ( Morris Cohen). Outra: “É fazendo o bem que se destrói o mal, e não o afrontando” (Charif Barzuk) Não podia faltar a pérola de Sócrates: “Só sei que não sei”.

Ao meu ver, é isso mesmo quem pensa, quem tem idéias não deve impor-las aos outros, será vitorioso se em vez disso, criar dúvidas no outro sobre as suas antigas convicções. E o bem? “brigaria” com o mal? Afrontá-lo-ia? Não, o bem é o bem é pronto não precisa destruir o mal para se impor, afinal “se impor” já é coisa de mal, concorda? Discorda? Responda...

Quanto ao Sócrates, este não se comenta, sua concisão é magnífica!

Escolhi a parábola que esta nas páginas 89/90 para ilustrar meu post porque ela mostra de forma significativa que nenhuma pessoa sozinha pode perceber totalmente a realidade, ela precisa ser compartilhada, precisamos ouvir o outro, tentar entende-lo, tentar “enxergar” pelo ângulo dele, quem sabe se fizéssemos isso conseguiríamos entender melhor a nossa múltipla realidade. Vamos ao texto:

Quatro cegos discutiam em torno de um elefante que, pacato estava em pé no jardim de um circo.

O primeiro, com as duas mãos, envolveu uma das patas do forte paquiderme e disse:

-O elefante é um animal em forma de coluna. Como aquelas que sustentam os templos de nossas divindades.

-Não – disse o segundo, segurando a tromba -, é um bicho comprido, como uma jibóia, com formas dos tubos de bambu que irrigam nossos jardins.

-De jeito nenhum, disse o terceiro, agarrando uma orelha-, é um animal chato e largo, como uma folha de bananeira gigante, ou como os flabelos com que os escravos abanam os marajás.
-Voçes não entenderam nada - exclamou finalmente o quarto, que tentava em vão agarrar o rabo do mastodonte -, esse bicho não passa de um chicote que o amo usa para bater nos escravos. Ou então um enxota-moscas de uso exclusivo de nossos príncipes.

E já falavam em altos brados. Um homem sábio, que passava por lá, ouviu a discussão e aproximou-se.
Os cegos lhe imploraram que os exclarecesse.

-O primeiro esta errado. O elefante não é feito como uma coluna de templo.

Os outros três cegos alegraram-se.

-O segundo também esta errado. O animal não é uma cobra.

Os outros dois cegos alegraram-se.

-O terceiro não está mais certo que os outros. O bicho não se parece nem com folha de bananeira nem com abano.

O quarto cego então ficou exultante, crente de que tinha razão.

-O quarto é tão ignorante quanto os outros três. Também não é um chicote, coisa que os quatro mereciam por quererem ser donos da verdade. O elefante é um pouco de tudo isso.

Assim discutem os homens de espírito estreito, que só vêem um aspecto da divindade.
(Ramakrishna apud Yveline Brière)

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